terça-feira, setembro 20, 2005

Modelos políticos e comunicação social: exposição e crítica
Por Cíntia e Vitor
Os três principais modelos políticos, vigentes atualmente, que envolvem a formação democrática da opinião e da vontade de uma sociedade, subdividem-se nas perspectivas liberal, republicana e deliberativa.
Sob a perspectiva liberal a política funciona como mediadora entre a sociedade e o Estado, pois reúne interesses particulares e os impõe ao Estado, o qual passa a funcionar como defensor de uma sociedade centrada em interesses privados articulados entre si. A formação democrática da opinião e da vontade, que em tese seria garantida pelo acesso igualitário à informação, tem a função de tornar legítimo o exercício do poder administrativo. O setor da comunicação, assim como todos os demais, seria regulado pelas leis de mercado, ou seja, a livre concorrência e o interesse ao lucro garantiriam à população (consumidor) a informação (produto) ampla e de qualidade. Na prática, o que observamos é a Comunicação Social cumprindo um papel meramente informacional, sendo descartado o seu potencial influenciador sobre as opiniões e vontades.
De acordo com a visão republicana o processo político é útil aos cidadãos para exercer o controle sobre o poder estatal e se desenvolverem como politicamente ativos em favor do bem comum, vista a prioridade dada à coletividade. Nessa perspectiva o Estado funciona como uma comunidade ética. É proposto que a formação democrática da vontade seja estruturada sobre o bem comum, o qual é gerado dentro da própria sociedade como algo prévio à política. Seguindo essa idéia, semelhante ao liberalismo, os meios de comunicação se responsabilizariam apenas com o informar, já que seu papel formador seria desnecessário, tendo em vista que a sociedade, de forma autônoma, se encarregaria disso. Dessa forma, a comunicação se transforma em algo realizado diretamente dentro da própria comunidade, dispensando formas midiáticas comunicativas.
A perspectiva deliberativa da democracia considera a livre discussão política como forma de determinação das vontades públicas. A democracia deliberativa detém-se muito mais no enaltecimento da comunicação como caráter subjetivo de ampla deliberação do que nos meios práticos, concretos, onde isso ocorreria. O alcance comunicacional na esfera pública seria definido por uma relação interpessoal, desprezando o papel das mídias e da representação política. Tal concepção faz-se impossível nas sociedades complexas, pensando-se na necessidade de transmitir informações, as quais exercerão influência, positiva ou não, na formação de opiniões e vontades.
Em suma, nenhum dos três modelos confere espaço devido e valorização à comunicação social como mediadora entre sociedades e política.

terça-feira, setembro 13, 2005

Do dever do jornalista

Perante um momento em que um mar de denúncias assola o país, uma discussão constantemente pautada vem à tona novamente: qual o lugar do jornalismo como agente denunciador?

Deve um jornal, ou mais especificamente um jornalista, dar crédito a qualquer novo personagem que surja e suas histórias? Até onde deve-se e ir e arriscar em busca de um furo?

O caso da Escola Base, em São Paulo, é um exemplo recente e trágico dessa corporificação denuncista da mídia. Atrás da notícia exclusiva e da maior vendagem, todos os veículos de comunicação do país publicaram acusações, desmascaradas posteriormente, de três crianças de seis anos de idade.

Na entrevista coletiva que deu à imprensa, para responder às denúncias publicadas na revista Veja, o Ministro da Fazenda Antônio Palloci tocou nessa ferida. O Ministro afirmou ter receio de como os fatos são tratados na imprensa. Segundo ele, uma denúncia infundada é publicada no domingo, repetida em dois ou três jornais na segunda-feira e aquilo já vira verdade absoluta. Depois, quando o fato é desmentido, essa mesma imprensa, convenientemente, esquece de publicar. A própria Veja, por exemplo, até hoje não voltou atrás nas afirmações que fez, nem apresentou o suposto e-mail que teria originado a matéria.

Entendo que no atual contexto de crise, deixar de veicular qualquer fato novo significa prejuízo. Porém, não deveria o compromisso com a verdade e com o leitor vir primeiro que a ótica mercantilista?

Como podemos perceber, o buraco é mais embaixo.