terça-feira, novembro 01, 2005

Crítica de mídia
Onde foi parar a isenção jornalística? - II
Por Vitor Moreira

Devido à "semi-polêmica" originada pela primeira postagem, resolvi publicar uma segunda parte.


Como já dito na primeira postagem, acreditar num jornalismo imparcial, principalmente pelo fato de ele ser humanamente impossível de ser realizado, é uma ingenuidade. Mais do que a própria inexistência concreta de imparcialidade, os meios de comunicação, de maneira geral, ainda são regidos pelos interesses pessoais e econômicos de seus proprietários.


Entretanto, extremar essa condição que precariza o jornalismo e defender que esses meios de comunicação explicitem sua opinião apresentando apenas os argumentos mais convenientes é incorrer em um grande erro. A mídia, no Brasil, já é considerada hoje como um quarto poder. Imaginemos, então, qual não será a multiplicação desse poder se passarmos a considerar moralmente aceitáveis as coberturas jornalísticas tendenciosas, que hoje são realizadas por grande parte da mídia? Ficaremos escravos de uma verdadeira ditadura da informação. E se, amanhã, por motivos misteriosos, todos os meios de comunicação do país resolverem assumir uma postura pró-governo, divulgando apenas informações benéficas à imagem do Presidente? Ficaremos então, impossibilitados de conhecer problemas que afligem o Governo, mas felizes porque temos uma mídia que explicita o que pensa e defende? Acho que o caminho não é por aí.


Desvincular a mídia dos interesses capitalistas de uma só vez é querer dar um passo muito maior do que as pernas (isso pra ser otimista). Por outro lado, pequenas atitudes devem ser reconhecidas e tomadas como exemplo. Novamente, recorro ao exemplo da revista Istoé, na capa em que abordava a discussão do referendo. Obviamente, a Istoé possuía seu posicionamento quanto a discussão (e no caso, a revista apoiava o Sim, como ficou claro em outras matérias posteriores), mas não deixou que isso influenciasse na reportagem em que apresentou motivos para votar "sim" e "não". Não quero aqui advogar em favor da revista Istoé, mostrando-a como o grande exemplo da isenção. Muito pelo contrário: como disse, a própria Istoé trouxe matérias tão tendenciosas quanto a da Veja em outras edições, ainda que defendendo idéias opostas. O que pretendo deixar como exemplo aqui é o caso específico dessa reportagem, em que interesses ideológicos e financeiros foram, sim, considerados. Mas não sobrepostos à isenção. São exemplos como esse que acredito que devem ser seguidos.

quinta-feira, outubro 13, 2005

Desarmamento
Onde foi parar a isenção jornalística?
Por Vitor Moreira

Acreditar hoje que é possível ser imparcial, quando se trata de jornalismo, é quase uma utopia. O ato de escrever, em si, já traz incipiente uma parcialidade. Entretanto, deve-se ainda prezar a isenção na apuração dos fatos, a apresentação dos dois lados da moeda, qualquer seja o assunto. Pois bem, apesar disso, a Veja mais uma vez nos deu uma aula de como não se fazer jornalismo (o que, sinceramente, já não espanta mais tanta gente).

Segundo as normas eleitorais do referendo, definidas pelo TSE, as emissoras de rádio e tv estão proibidas de veicular propaganda política ou difundir opinião favorável ou contrária a qualquer das propostas da consulta popular. Entretanto, nada se fala sobre a mídia impressa. Valendo-se disso, a Veja, defendendo seus interesses político-econômicos, publicou no dia 5 de outubro a capa: 7 razões para votar não, ignorando completamente os argumentos que poderiam levar uma pessoa a votar no "sim".



Passada uma semana da escandalosa matéria da Veja, a Istoé, se contrapondo à concorrente, também trouxe o tema do desarmamento em sua chamada de capa.

Como uma imagem vale mais que mil palavras, faz-se desnecessário verbalizar o abismo moral que diferencia a postura das duas revistas sobre esse assunto. Obviamente, a "coincidência" em apontar 7 motivos para votar "não" e 7 motivos para votar "sim", aliada ao destaque dado a frase: Só você decide foi uma forma de afrontar a Veja, visando sua desmoralização, ou seja, houve também um forte apelo ecônomico por detrás. De qualquer forma, palmas para a Istoé. E pra Veja... bem, melhor deixar pra lá.

terça-feira, setembro 20, 2005

Modelos políticos e comunicação social: exposição e crítica
Por Cíntia e Vitor
Os três principais modelos políticos, vigentes atualmente, que envolvem a formação democrática da opinião e da vontade de uma sociedade, subdividem-se nas perspectivas liberal, republicana e deliberativa.
Sob a perspectiva liberal a política funciona como mediadora entre a sociedade e o Estado, pois reúne interesses particulares e os impõe ao Estado, o qual passa a funcionar como defensor de uma sociedade centrada em interesses privados articulados entre si. A formação democrática da opinião e da vontade, que em tese seria garantida pelo acesso igualitário à informação, tem a função de tornar legítimo o exercício do poder administrativo. O setor da comunicação, assim como todos os demais, seria regulado pelas leis de mercado, ou seja, a livre concorrência e o interesse ao lucro garantiriam à população (consumidor) a informação (produto) ampla e de qualidade. Na prática, o que observamos é a Comunicação Social cumprindo um papel meramente informacional, sendo descartado o seu potencial influenciador sobre as opiniões e vontades.
De acordo com a visão republicana o processo político é útil aos cidadãos para exercer o controle sobre o poder estatal e se desenvolverem como politicamente ativos em favor do bem comum, vista a prioridade dada à coletividade. Nessa perspectiva o Estado funciona como uma comunidade ética. É proposto que a formação democrática da vontade seja estruturada sobre o bem comum, o qual é gerado dentro da própria sociedade como algo prévio à política. Seguindo essa idéia, semelhante ao liberalismo, os meios de comunicação se responsabilizariam apenas com o informar, já que seu papel formador seria desnecessário, tendo em vista que a sociedade, de forma autônoma, se encarregaria disso. Dessa forma, a comunicação se transforma em algo realizado diretamente dentro da própria comunidade, dispensando formas midiáticas comunicativas.
A perspectiva deliberativa da democracia considera a livre discussão política como forma de determinação das vontades públicas. A democracia deliberativa detém-se muito mais no enaltecimento da comunicação como caráter subjetivo de ampla deliberação do que nos meios práticos, concretos, onde isso ocorreria. O alcance comunicacional na esfera pública seria definido por uma relação interpessoal, desprezando o papel das mídias e da representação política. Tal concepção faz-se impossível nas sociedades complexas, pensando-se na necessidade de transmitir informações, as quais exercerão influência, positiva ou não, na formação de opiniões e vontades.
Em suma, nenhum dos três modelos confere espaço devido e valorização à comunicação social como mediadora entre sociedades e política.

terça-feira, setembro 13, 2005

Do dever do jornalista

Perante um momento em que um mar de denúncias assola o país, uma discussão constantemente pautada vem à tona novamente: qual o lugar do jornalismo como agente denunciador?

Deve um jornal, ou mais especificamente um jornalista, dar crédito a qualquer novo personagem que surja e suas histórias? Até onde deve-se e ir e arriscar em busca de um furo?

O caso da Escola Base, em São Paulo, é um exemplo recente e trágico dessa corporificação denuncista da mídia. Atrás da notícia exclusiva e da maior vendagem, todos os veículos de comunicação do país publicaram acusações, desmascaradas posteriormente, de três crianças de seis anos de idade.

Na entrevista coletiva que deu à imprensa, para responder às denúncias publicadas na revista Veja, o Ministro da Fazenda Antônio Palloci tocou nessa ferida. O Ministro afirmou ter receio de como os fatos são tratados na imprensa. Segundo ele, uma denúncia infundada é publicada no domingo, repetida em dois ou três jornais na segunda-feira e aquilo já vira verdade absoluta. Depois, quando o fato é desmentido, essa mesma imprensa, convenientemente, esquece de publicar. A própria Veja, por exemplo, até hoje não voltou atrás nas afirmações que fez, nem apresentou o suposto e-mail que teria originado a matéria.

Entendo que no atual contexto de crise, deixar de veicular qualquer fato novo significa prejuízo. Porém, não deveria o compromisso com a verdade e com o leitor vir primeiro que a ótica mercantilista?

Como podemos perceber, o buraco é mais embaixo.

domingo, agosto 28, 2005

Gestão de Hélio Costa preocupa entidades da sociedade civil

A proximidade do novo ministro das Comunicações com o grande empresariado da área preocupa organizações da sociedade civil, que temem retrocessos nas políticas construídas nos últimos anos, sobretudo em radiodifusão digital, software livre e rádios comunitárias.

O primeiro questionamento de Costa se deu em relação ao Sistema Brasileiro de Televisão Digital (SBTVD), proposta de criação de uma política para a conversão da transmissão do sinal de TV do formato analógico para o digital com desenvolvimento científico, soluções e especificidades próprias voltadas às necessidades brasileiras. Para estudar esta possibilidade, o governo disponibilizou R$ 65 milhões para pesquisas em 11 áreas que hoje envolvem quase 80 instituições. Hélio Costa chegou a sugerir uma movimentação para jogar areia no SBTVD em prol da escolha de um dos padrões já existentes hoje no mundo (Estadunidense, Europeu ou Japonês). Mas uma preocupação mais emergencial das entidades da sociedade civil está na digitalização dos serviços de rádio: Hélio Costa vem anunciando que irá permitir transmissões em caráter experimental em 12 capitais do sinal de rádio digital a partir do modelo estadunidense, o IBOC (In Band On Channel). Estudos feitos por acadêmicos brasileiros já mostram que o IBOC funciona de forma totalmente proprietária (é preciso pagar royalties e não é possível produzir uma versão brasileira dos componentes e programas) e com pouca ou nenhuma margem de democratização do espectro eletromagnético (o que não permite mais estações de rádio no dial no processo de digitalização).

Uma das grandes surpresas do governo Lula, a política de inclusão digital, também já sofre os efeitos da presença de Hélio Costa. Na semana passada o ministro demitiu Antônio Albuquerque, responsável, entre outros, pelo programa Governo Eletrônico - Serviço de Atendimento ao Cidadão (Gesac), que hoje conta com 3.200 pontos de acesso à internet em todo o país, atendendo aproximadamente uma rede de 4 milhões de pessoas, entre elas, comunidades marginalizadas, nações indígenas, quilombolas e trabalhadores rurais sem terra.

* a matéria completa pode ser encontrada no site da agência Carta Maior

segunda-feira, agosto 22, 2005

Dando início aos trabalhos...
"Recusar-se a ouvir uma opinião, por se achar seguro de que é falsa, é pretender que sua certeza é o mesmo que certeza absoluta. Todo ato de proibir uma discussão é uma pretensão de infalibilidade".
John Stuart Mill, Liberdade de Pensamento e discussão


A citação de Stuart Mill resume bem o espírito desse blog. Criado para a disciplina Políticas de Comunicação da Universidade Federal de Minas Gerais, este será um espaço para diversos debates, passando por temas que vão das discussões politico-filosóficas sobre democracia à implantação da tv digital no Brasil.

Esse blog servirá como canal de informação e discussão sobre políticas públicas de comunicação no Brasil, abordando de maneira ampla e crítica os mais variados assuntos que se relacionem, direta ou indiretamente, a essa temática.

Preservando e defendendo desde já a diversidade de opinião, a ausência de coerência ideológica (que inevitavelmente irá ocorrer em variadas oportunidades) entre os posts desse blog deve ser interpretada como um aspecto positivo, de que um dos nossos objetivos, o de criar um livre espaço para o debate, já foi alcançado. Pois, para citar novamente Stuart Mill, "A completa liberdade para contradizer e refutar nossa opinião é a genuína condição que nos autoriza a considerá-la verdadeira para objetivos de ação".